Turismo de massa?

O grande tema do momento, na área do turismo, é o “turismo de massa” - mas o que seria isso?

A verdade é que grandes cidades já passaram por momentos difícieis em decorrência do turismo.

Se, por um lado, o turismo gera renda, trabalho, pagamento de impostos, melhora na rede hoteleira, restaurantes e serviços, por outro, pode gerar a expulsão dos moradores locais, a dificuldade no trânsito, aumento de lixo dentre outros.

A “invasão” de turistas é o que se tem como um “turismo de massa”, ou seja, em pouco tempo muitas pessoas visitam determinado lugar - o que gera, em certo ponto, um verdadeiro caos na cidade. Ao invés de se conseguir reconhecer os benefícios do turismo - seja para quem vive, mas também para quem visita, o efeito acaba sendo bem contrário.

Isso por que, na maior parte das vezes, as cidades não estão preparadas para este movimento quase que repentino. Obviamente que algumas cidades sempre foram reconhecidas pela sua história, monumentos, belezas naturais, mas se as visitas acontecem de uma só vez, gera grandes problemas.

A ideia é simples: imagine que você está acostumado/a a receber umas 4 (quatro) pessoas na sua casa… mas um belo dia… surgem 20 pessoas. Se for uma festa pontual, um dia do aniversário, ou mesmo Natal, a gente se programa, recebe e corre tudo bem… mas se isso passa a ser todos os fins de semana, ou talvez umas três vezes na semana… provavelmente você não terá orçamento que suporte, animação para tanta gente, ou mesmo condições de receber bem (cadeiras, pratos e talheres, espaço físico). Esta é a ideia do turismo de massa.

E em meio a este caos, o que tem acontecido?

Recentemente diversos turistas sofreram um grande “choque” em Barcelona - protestos nas ruas, pistolas de água, muitos gritos ofensivos e desagradáveis (veja aqui e aqui algumas matérias). Embora tenham sido bem radicais - e visto apenas o lado dos moradores - a capital catalã não é a única a sofrer com as dificuldades mencionadas.

Málaga e Palma de Maiorca, ambas na Espanha, Paris e Londres, bem como outras cidades ao redor do mundo já sentiram os impactos negativos sobre o turismo. E agora discutimos este assunto em Portugal.

Embora se reclame sobre a gentrificação em Lisboa, Sintra foi a primeira cidade portuguesa a expor de forma mais clara os impactos que o turismo excessivo tem causado na Vila.

A Associação QSintra pendurou diversos cartazes com os dizeres “Trânsito Caótico a todos prejudica, residentes e visitantes“ e “Sintra ≠ Disneyland“ - podem ver no nosso instagram as imagens, e também ler sobre o assunto aqui.

Sintra

E qual a razão desta reclamação? Ir à Sintra se tornou verdadeiramente penoso - e digo isso com tristeza por ser apaixonada pela Vila de Sintra e por trabalhar com turismo. Apenas para terem uma breve noção, por vezes se espera por mais de 30 minutos uma vaga para estacionar o carro - são poucos os lugares e muitos artesãos já utilizam durante o dia inteiro muitas destas poucas vagas; para se chegar ao Palácio da Pena (o ponto turístico mais visitado em Sintra) leva-se, no mínimo, 40 minutos (apenas da Vila até a entrada principal dos Jardins do Palácio); para ir até a Quinta da Regaleira, o melhor é caminhando… de carro são poucos minutos, mas não há onde estacionar - e a volta para se chegar até o centro são outros 40 ou 50 minutos.

Imagine morar nestes caminhos e rotas para se chegar aos pontos turísticos?

E neste momento você poderia pensar: então por que a pessoa não se muda e vai para um lugar mais tranquilo?

E eu te questiono: será que um lugar “sem vida”, apenas com lojas, restaurantes e hotéis voltados para o turismo, será tão interessante?

Penso que o que faz a diferença - sempre - são as pessoas. As pessoas que nos recebem, que nos contam suas estórias, que vivenciam o lugar e possuem orgulho em contar sobre ele.

E talvez eu até esteja falando contra mim, mas por mais que eu possa te mostrar os monumentos e falar sobre eles, mostrar lugares “secretos”, ou onde beber um bom vinho, nada tira - para mim - a felicidade de encontrar uma “pessoa local” e ouvir sobre sua família.

O texto é minha simples opinão - e vale o que vale - sem qualquer pretensão de dar as respostas corretas, ou mesmo advogando contra o turismo. É apenas, e tão somente, para nos fazer refletir e buscar alternativas em conjunto - profissionais do turismo, entidades governamentais, associações, visitantes e moradores - afinal, todos queremos o mesmo: mostrar aquilo que tanto nos enche de orgulho, que traz o sustento, mas também que é onde amamos viver.

Convido a deixar sua opinião e também compartilhar o texto com outras pessoas.





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